Pica-pau, originalmente intitulado Woody Woodpecker, é uma das principais criações do artista estadunidense Walter Lantz. Com diversas adaptações feitas ao longo das décadas, o protagonista é uma ótima representação das nuances dos arquétipos do Trickster e do Pícaro.
Em todas as versões, Pica-Pau é um pássaro curioso, ágil e travesso, que frequentemente se mete em encrencas mas consegue sair delas de maneira engraçada e, quase sempre, astuta.
A versão original de Pica-Pau foi criada em 1940 e é ela que direciona os elementos fundamentais de personagens e enredo para as adaptações futuras. Muitos aspectos da versão de 40 se mantiveram, como sua aparência física e seu comportamento travesso, por exemplo.
No entanto, algumas das adaptações deram mudanças significativas na narrativa e na forma como o personagem é retratado.
Em sua primeira versão fica evidente que o Pica-Pau foi criado como um claro símbolo do nacionalismo: as cores de sua pelagem já significam muito, mas isto fica ainda mais perceptível em episódios como “O Barbeiro de Sevilha”, onde os personagens enfrentados pelo protagonista (não necessariamente os antagonistas) são um nativo-americano e um operário.
Com o passar dos anos a obra mostrou temas mais atuais e coerentes para o público que a acompanhava. Isso chegou ao ápice com a versão lançada em 1999, onde o personagem é representado de uma forma mais humanizada, mas ainda mantendo sua essência.
Com contas para pagar, sobrinhos para cuidar e outros conflitos mais contemporâneos e verossímeis, a versão de 99 rompeu ainda mais a dicotomia percebida na relação “Protagonista x Antagonista” que foi retratada por muito tempo, o que fez o público se questionar ainda mais sobre o que é bom ou mal, o que é aceitável ou não.
Entretanto, o gênero das adaptações de Pica-Pau se manteve como comédia, explorando a relação do personagem com outros personagens e com a natureza, com o objetivo de provocar risadas e entretenimento.
Inclusive, alguns personagens se mantiveram ao longo dos anos, como é o caso de Zeca Urubu, Leôncio Walrus e Meany Ranheta.
Outro fator consistente que pode ser observado na comparação das obras é o formato episódico, com pequenas histórias auto conclusivas, que permitem os espectadores acompanharem as aventuras do Pica-Pau sem se preocuparem com continuidades complexas.
Em resumo, Pica-pau é uma criação notável de Walter Lantz que tem evoluído ao longo dos anos, mantendo sua essência como um personagem travesso e engraçado, mas ao mesmo tempo incorporando novas nuances e se adequando aos temas atuais.